sexta-feira, 18 de abril de 2008

FRANCIS BACON
Primeira Síntese: O Novum Organum
Esse trabalho é uma exigência da cadeira de História da Filosofia III. Moderna I do curso de Filosofia da Universidade Federal do Ceará, ministrada pelo Professor Cícero Antônio Cavalcante Barroso.

1. Breve Introdução

Os historiadores da filosofia definem a filosofia moderna como o saber iniciado principalmente na Europa do século XVII. O período renascentista é tido como intermediário entre a filosofia medieval e a moderna. Essa transição para a modernidade é marcada pela ruptura com o saber escolástico impregnado pelo aristotelismo, promovendo diversos conflitos entre a igreja e estado. Mas é também um período de definições, pois o modo de pensar ainda oscilava entre conceitos e discussões medievais.
Uma outra marca indelével desse período é a projeção das ciências naturais ou filosofia natural. Esse é um momento de grande efevercência e de uma passagem da ciência especulativa para a uma ciência da atividade ou experimental, muito presente no pensamento Francis Bacon. Ele enalteceu a experiência e iniciou o famoso “método indutivo de investigação científico”. Tal ênfase lhe legou o título por alguns historiados da filosofia de “o iniciador do empirismo”. Os princípios baconianos, que hoje podem ser considerados triviais, tinham por objeto criar um método científico que fazia frente ao método escolástico-aristotélico.
Essa nova forma de pensar rompe definitivamente com a tradição filosófica. O que Bacon intenta promover e realizar aquilo que ele mesmo chamou de Instauratio magna (Grande restauração). Algo estava errado e precisava ser corrigido. Entretanto, o que lhe interessava era a ciencia da natureza que para ele estava acima das ciencias filosofias dos tempos gregos. A ruptura é extremamente profunda, pois rompe de forma concisa com toda a tradição aceita. Bacon chamará sua ciência de philosophia prima, pois dará conta dos princípios fundamentais às várias ciências. Essa philosophia prima difere da proto philosophia, ou seja, a ontologia tradicional encontrada em Aristóteles, que constitui o estudo do “ser em quanto ser”.
Entretanto, o que irá interessar a Bacon é a ciência da natureza, ou o Novum Organum, que conterá as regras do novo método (daí o nome em latim Novum Organum). Esse “novo método” é a construção de uma nova maneira de se estudar os fenômenos naturais constituídos não do raciocínio silogístico aristotélico, mais sim da observação e experimentação através do raciocínio indutivo. Mas isso será melhor avaliado mais à frente.

2. Vida

Francis Bacon (1561-1626) nasceu em York House, Londres em 1561. Pertencente a uma família nobre inglesa teve sua educação humanista e voltada para política. Seu pai, Sir Nicholas Bacon não era um homem comum na Inglaterra e durante o reinado de Elizabeth foi o guardião do Sinete. Sua mãe, lade Anne Cooke era teóloga e lingüista tornando-se instrutora do filho em assuntos políticos e intelectuais. Com doze anos foi estudar no Trinity College, onde estudou filosofia por três anos e onde também viu que ela não tinha fins práticos, nascendo com isso uma mente crítica e hostil a filosofia predominante. Também estudou na Universidade de Cambridge, mas se formou no Gray's Inn em 1576 em direito. Foi em Gray's Inn que teve uma formação política onde alcançou diversas posições, como procurador-geral, grande chanceler, visconde de Saint Albans e outras posições de muita estima.
Bacon não foi um homem que desfrutasse de boa reputação, era muito ambicioso e foi acusado de crimes contra a administração pública sendo condenado a pagar multas pesadas e proibido de exercer cargos públicos. Como escritor, pode-se dizer que foi notável e prolífero e somente a morte em 1626 interrompeu seu grande projeto de reforma do conhecimento. Após o incidente político e as acusações de corrupção, foi perdoado pelo rei e se retirou para suas terras onde se dedicou inteiramente à vida intelectual. Foi um pensador que influenciou filósofos com Hobbes e Locke, ambos também ingleses, que projetaram suas filosofias no mesmo rumo, contribuindo muito para o avanço do empirismo na Inglaterra e na Europa. Considerado como o ultimo pensador antigo e o primeiro dos modernos, era dono de uma capacidade intelectual privilegiada, chegou a propor o pleno domínio do homem sobre a natureza, sintetizada na célebre frase: “saber é poder”. A ciência tem que ser o instrumento de restabelecimento do imperium hominis (império do homem) sobre as coisas, e nem a filosofia deve ser apenas uma análise especulativa ou meramente abstrativa deve ser também algo da praxis do homem.
Francis Bacon morreu em 9 de abril de 1926 aos 65 anos de idade em Londres, vítima de bronquite. Fazia experimentos sobre o frio e queria saber por quanto tempo o frio preservava a carne. Apenas um ano depois foi publicada sua obra Nova Atlantis (Nova Atlântida), na qual descreve a cidade ideal dos sábios. Bacon foi um pioneiro da ciência moderna e demonstrou preocupações com a utilização do conhecimento cientifico iniciada por Nicolau Copérnico. Seu legado é vasto e sua obra é dividida em três partes: jurídica, literária e filosófica.

3. O Novum Organum e a Teoria dos Ídolos

Como já fora mencionado, o que encontra-se no Novum Organum é uma constante oposição ao Organum de Aristóteles e uma formulação de um novo método científico. Contra Aristóteles ele despeja suas críticas mais virulentas e acusa-o de corromper com sua dialética a filosofia natural, pois para ele seu método ou “doutrina dos ídolos” é a interpretação da natureza. Entretanto como ele mesmo afirma: “A formação de noções e axiomas pela verdadeira indução é, sem duvida, o remédio apropriado para afastar e repelir os ídolos” . Aqui, encontra-se os primeiros ensaios na formação do método indutivo.
O Novum Organum tem claras pretensões de substituir o Organum de Aristóteles. Segundo ele, o que impe as pessoas de compreender a verdade e a ciência é um tipo de enfeitiçamento ou um bloqueiamento da mente humana provocada pelos “ídolos”. Bacon se utiliza de uma palavra grega pra expressar o estado do homem em seu tempo, o termo eidolon introduz a idéia de uma falsa divindade, é uma referencia ao engano da falsa religiosidade. Em uma linguagem retirada do contexto religioso, muito predominante em seu tempo, Bacon introduz a noção de idola, (em latim) iniciando sua teoria dos ídolos. Os ídolos no pensamento de Bacon expressam as falsas noções dos homens e são responsáveis pelo insucesso na ciência e na filosofia. Esses ídolos são de quatro gêneros: ídolo da tribo, ídolo da caverna, ídolo do foro e ídolo do teatro.

3.1. Ídolos da Tribo

Idola Tribus, o próprio nome indica de onde provêm as falsas noções que não permite o homem ter acesso ao conhecimento cientifico, vem do próprio homem, a saber, os erros da raça humana. Esses ídolos induzem os homens a tomarem todo conhecimento derivado dos sentidos como verdadeiro. Os sentidos enganan subjetivando o conhecimento, que para Bacon deve ser objetivo e obtido através do método experimental, ou seja, pela observação e experimentação. Eles são vícios inerentes à natureza do homem. As percepções erronias do ser humano induzem a interpretação do universo de modo mais simples do que ele é na verdade. Ou seja, uma interpretação onde o intelecto e os sentidos podem conduzir o homem a conceitos antecipados.

3.2. Ídolos da Caverna

Ou contrário dos ídolos da tribo, os ídolos da caverbna diz respeito aos homens quanto indivíduos. Trata da natureza do indivíduo, e não da espécie humana. O título é devido a uma alusão à “Alegoria da Caverna”, mito contado por Platão em sua República. Segundo Bacon todo homem “tem uma caverna ou uma cova que e corresponde a luz da natureza” Isso é, da mesma maneira encontrada em Platão, os indivíduos, possui a sua verdade particular, tida como única. A constituição da alma e do corpo, a educação, o hábito ou os eventos fortuitos são tomados por Bacon como originários dos ídolos da caverna.

3.3. Ídolos do Foro

Também conhecido como ídolos do mercado ou da feira. Assim chamados “devido o comércio e consorcio entre os homens” . Compreendem os erros implicados na ambigüidade das palavras e na comunicação entre os homens. É um problema básico de linguagem, pois “os homens se associam graças ao discurso” . Uma mesma palavra (ele toma como exemplo a palavra úmido) tem sentidos diferentes para os interlocutores e isso pode levar a uma aparente concordância entre as pessoas. Pode-se dizer que aqui encontra-se uma ponta do que viria a ser a filosofia da linguagem no século XX. Para Bacon esses ídolos são os mais perturbadores, por alojarem-se no intelecto graças ao pacto nos discursos. São dois os ídolos que se impõe ao intelecto, os nomes de coisas que não existem, e os nomes de coisas que existem, mas são mal determinados e abstraídos das coisas inadequadamente.

3.4. Ídolos do Teatro

Os últimos ídolos identificados por Bacon têm suas causas nos sistemas filosóficos. Eles “imigram” para o espírito humano através das diversas correntes filosóficas, não sendo inatos foram recebidos por meio de fábulas e das ciências demonstrativas. Bacon afirma que eles são numerosos e que “As narrações feitas para a cena são mais ordenadas e elegantes e aprazem mais que as verdadeiras narrações tomadas da história” . Ele aponta três tipos de fontes de onde provem os erros amparados pelas “falsas filosofias”, são eles: a sofistica, a empírica e a supersticiosa.

4. Conclusão

O projeto baconiano em propor um novo método para modernidade legou a sua época e as épocas posteriores uma acusação direta à crise intelectual vigente, atribuindo-lhe o título de “o primeiro dos modernos e ultimo dos antigos”. Em sua obra O Novum Organum, encontra-se idéias e princípios que serviram como pavimentação para uma ciência pautada na experiência rejeitando tanto o dogmatismo religioso como a metafísica filosófica. Para Bacon o novo homem não devia mais “idolatrar” esses ídolos recalcadores da natureza, mas sim, desprender esforços para implantar a Instauratio magna (Grande restauração). A grande contribuição de Francis Bacon assenta-se na apresentação de um novo método que é liberto de posições extremas (apenas metafísicas) e longe da simples sensibilidade. Seu único objetivo é estabelecer o imperium hominis (império do homem).

Um comentário:

Gabriel disse...

Ola, sou estudante e admirei muito o seu trabalho a forma como voce explica os quatros tipos de idolos , com textos de facil entendimento e bem estruturado. Gostei muito, parabens.