sábado, 2 de maio de 2009

JOANNES BURIDANUS
(1295 – 1358?)

Marcos Roberto Damásio da Silva
[1]

1. Introdução biográfica


Filósofo aristotélico da Idade Média tardia, como também um clérigo francês natural de Béthume. Jean Buridan, nome latino Iohannes Buridanus (1295-1358) é tido por muitos como um dos mais influentes filósofos desse período. Não se sabe ao certo data nem local do seu nascimento, mas é muito provável que tenha nascido por volta de 1300 d. C na cidade de Béthune, na diocese de Arras na Picardia, França. Também a data de sua morte é incerta. Provavelmente ele tenha morrido em torno de 1358, mas certamente não viveu além do ano de 1361, quando um de seus benefícios foi repassado para outra pessoa.

Buridan teve toda sua educação em Paris, estudou no Collége Lemoine, onde foi favorecido, sendo concedido a ele um benefício para estudar como aluno carente. Formou-se em filosofia pela Universidade de Paris como discípulo do nominalista William of Ockham, sendo posteriormente nomeado docente de filosofia na mesma Universidade em 1328 d. C. Permaneceu na Universidade de Paris por aproximadamente trinta anos, vindo a assumir o cargo de reitor por duas vezes (1328-1340) e morreu em Paris.

Além de filósofo e lógico, foi cientista teórico em ótica e mecânica, em sua vida acadêmica, Buridano se ocupou principalmente do estudo da lógica e de fazer comentários sobre as obras de Aristóteles, provavelmente ele tenha comentado todas as grandes obras de Aristóteles. “Em acréscimo ao Organon inteiro, há comentários sobre a Physica, De caelo, De Geratione et Corruptione, De Anima, Meteorologica, Metaphysica, Ethica ad Nicomachum e outros”. No entanto, sua maior obra é o “Compêndio de Dialética” (Summulae de dialectica) composta por nove tratados.

Considerado um dos grandes filósofos da Idade Média, hoje é pouco estudado, como também muito pouco conhecido no mundo acadêmico contemporâneo, a quem afirme que sua falta de “popularidade” tenha sido provavelmente por conta dele ter sido um clérigo que não estava ligado a nenhuma das ordem religiosa de sua época, visto que quase todos os intelectuais do Período Medieval Clássico estiveram ligados à ordens religiosas como a dos Franciscanos e Dominicanos. Seu trabalho em explicar o “movimento de projéteis e objetos em queda livre, facilitou o caminho para a formulação da dinâmica de Galileu e para o enunciado do famoso princípio da inércia, de Isaac Newton”.

2. O Pensamento de Buridan

O pensamento de Buridan impactou grandemente a filosofia e as ciências de seu tempo, suas idéias se espalharam fortemente pelas partes mais distantes da Europa. Tanto seu nominalismo como também sua mecânica não se enclausuraram apenas em sua própria universidade, antes, através de seus alunos e de seus colegas de todo o continente foram difundidos. Paris foi dominada pela lógica nominalista de Buridano, e durante muitos tempos foi o centro de estudos no final da Idade Média.

Buridan é contado entre os nominalistas do século XIV, seu nominalismo toma diversas formas, isto é, tece críticas ao nominalismo aristotélico, minimizando o número de categorias aristotélicas, também nega a existência ontológica dos universais, e rejeita várias entidades abstratas, como, por exemplo, as proposições. O nominalismo na verdade pode aparecer de diversas formas dentro do pensamento filosófico medievalista:


Há vários tipos de nominalismo: os historiadores distinguem o ‘nominalismo de direita’ chamado de ‘histórico-crítico’ (Gregório de Rimini, Hugolino de Orvieto), o ‘nominalismo moderado’ chamado de ‘ockhamista’ ou ‘lógico-crítico moderado’ (Pedro de Ailly, Gabriel Biel) e o ‘nominalismo de esquerda’ chamado de ‘modernista’ ou ‘lógico-crítico radical’ (Roberto Holkot, Nicolau de Autrecourt, Adam Wodeham). Legitimamente classificado entre os nominalistas, João Buridano não é ockhamiano e seus discípulos, Alberto de Saxe ou Marsílio de Inghen, freqüentemente, opõem-se à Ockham.[2]


O “problema dos Universais”, embora esteja presente de forma embrionária na filosofia clássica, principalmente em Platão e Aristóteles, foi um problema primeiramente trazido para a Idade Média com a monumental obra de Porfírio de Tiro (233-305 d. C) “Isagoge”[3]. Essa obra foi direcionada ao Senador Romano Crisaório e trata-se de uma introdução as categorias de Aristóteles. Durante esse período onde se procurava responder o “questionário de Porfírio” nasce as duas escolas essenciais desse período: a escola realista e a escola nominalista. Os realistas, como o próprio nome já diz, tomavam os universais como entes reais, ontologicamente existentes, já os nominalistas atribuíam aos universais um valor apenas conceitual, ou seja, eram apenas nomes, conceitos.

No âmbito da física, Buridan abordou a questão da dinâmica, sobretudo debruçou-se sobre a causa dos movimentos. O empenho em estudar o movimento horizontal de um corpo, Buridan caracterizou o ímpeto como sendo proporcional à quantidade de matéria m e à velocidade v do corpo, o que se aproxima da noção moderna de “quantidade de movimento”. Analisou também a aceleração de corpos em queda, que ganhariam ímpeto à medida que caíssem. A explicação para o movimento através da teoria do ímpeto (impetus) substitui a noção aristotélica de lugar natural aos quais as coisas sempre tendem a retornar. Para Aristóteles tudo tem seu propósito inerente a sua natureza, uma pedra, por exemplo, sempre tornará a terra porque a terra é seu lugar natural, é a essa afirmação que a teoria do ímpeto vem se contrapor.

Para Aristóteles todo o movimento presume um motor diferente do corpo em movimento. Além desse “motor imóvel” o ar também é também fundamental para continuação desse movimento. O que isto quer dizer? Para Aristóteles, o “motor” que dá o impulso para a movimentação do corpo, uma mão por exemplo, quando atira uma pedra, não permanece na pedra até seu alvo, logo, o que permite a continuidade desse movimento? Dirá Aristóteles, o ar que rodeia a pedra. Mais uma vez Buridan critica Aristóteles, para ele o ar nada pode explicar. Apenas o contato com o ar não pode gerar movimento.

A iniciativa de Buridan em pensar o movimento a partir não mais das categorias aristotélicas leva a uma abertura para ciência moderna, como já foi salientado tanto a “dinâmica” de Galileu quanto o “princípio da inércia” de Newton. Fica portanto uma indicação para estudo, uma vez que esse filósofo ficou marcado pelo seu pensamento tão rico e de profunda importância.

NOTAS:
[1] Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) – Campus Cariri. Juazeiro do Norte, Ceará. Semestre 2008.1. E-mail: Damásio_ufc@hotmail.com. Blog: inclinacoesfilosoficas.blogspot.com.
[2] DE LIBERA, Alain. A Filosofia Medieval. São Paulo: Loyola, 1998, p. 431.
[3] Eisagogé, Termo grego que significa “introdução”.